Veganismo é muito mais do que um regime alimentar

Não comer carne, peixe, ovos ou leite, nem usar lã ou couro é uma opção de vida que já conquistou pelo menos cinco mil portugueses. “Embora não exista nenhum estudo sobre o veganismo o número de veganos tem vindo a aumentar”, afirma Nuno Metello, presidente da Associação Vegetariana Portuguesa. “Hoje em dia é mais fácil ser-se vegetariano ou vegano; antes existia uma variedade diminuída de produtos; com o aumento do número de praticantes de vegetarianismo e veganismo a oferta aumentou e a preços mais competitivos”, adianta Nuno Metello.
Alexandre Coelho, de 24 anos, e Joana Cavadas, de 25, dois veganos que residem na Benedita, deram o seu testemunho a’O ALCOA. “A minha viagem que culminou no veganismo foi um processo gradual”, conta Alexandre Coelho, vegano há seis meses, reconhecendo que essa viagem “começou com alguma influência familiar: a minha madrinha, a qual não come carne nem peixe há mais de 30 anos e sempre foi uma grande fonte de inspiração moral para mim”. “Provavelmente esta foi uma das melhores e mais importantes decisões que fiz na vida”, afirma convictamente Alexandre Coelho, sublinhando que tornar-se vegan mudou a sua vida para “muito melhor”. “Além de me sentir muito mais saudável, consegui alinhar os meus valores morais com as minhas ações e sentir que estou a marcar uma diferença, por mais pequena que seja, para um mundo mais pacífico, sustentável e justo”.
No caso de Joana Cavadas, o processo não foi gradual. “Foi uma decisão tomada do dia para a noite, foi um toque na minha consciência como resultado de tentar compreender uma decisão de outro, foi um ‘eu não quero fazer parte disto'”. “Esta precipitação tornou-se na mais importante decisão que alguma vez tomei e ocorreu em janeiro de 2015”, sublinha Joana.
E o que é o veganismo? Para Joana Cavadas este movimento baseia-se no respeito. “Quer pelos outros humanos, se considerarmos os impactos ambientais que a indústria animal tem no planeta e na sua sustentabilidade, quer pelos animais não humanos que sofrem e são tratados como coisas para fins meramente egocêntricos de uma espécie que se acha superior”, defende. “Ser vegan é fácil, é simples, é barato, é diversificado, é saudável, e acima de tudo é bom e gratificante”, afirma, concluíndo que, no final, sente-se “mais energética, mais feliz e principalmente mais inteirada do mundo” e do quão a sua existência o afeta.

 

O veganismo do ponto de vista de uma nutricionista

Maria João Campos, nutricionista na Clínica Sra. da Conceição, em Alcobaça, explica que “antes de mais, o veganismo é um movimento político, social e filosófico que adota um regime alimentar muito específico”. “Em termos alimentares, os vegan excluem da sua alimentação a carne, o peixe e os produtos de produção animal, como os ovos, laticínios, mel e gelatina de origem animal; não utilizam nenhum material de origem animal, como couro, seda, lã, pele; são a favor dos direitos dos animais, sendo contra a caça e espetáculos de entretenimento que abusem dos animais e não utilizam nenhum tipo de produtos testados em animais, como são exemplo alguns cosméticos”, esclarece a nutricionista. Para Maria João Campos, “se devidamente acompanhados os vegan poderão fazer uma alimentação que cumpre com as suas necessidades nutricionais específicas, com alguns benefícios extra para a saúde”. “Procuram-me muitas pessoas com o objetivo de terem uma alimentação mais saudável, associando a isso, uma alimentação vegetariana ou vegan”, conta a nutricionista. “O importante é darmos todas as informações adequadas a quem nos procura, para lhes permitir uma escolha informada sobre o regime alimentar mais adequado”, defende. Enquanto técnica de saúde, Maria João Campos aconselha a que as pessoas procurem um nutricionista antes de tomar a decisão de alterar o seu regime alimentar. “Só desta forma poderão adotar uma alimentação adequada de modo a que não existam preocupações mas apenas orientações.

 

Testemunhos:

Alexandre Coelho – A minha viagem que culminou no Veganismo foi um processo gradual. Começou com alguma influência familiar, a minha madrinha, a qual não come carne nem peixe há mais de trinta anos e que sempre foi uma grande fonte de inspiração moral para mim.
Tornei-me Vegan há meio ano e sinto-me confiante em dizer que foi, provavelmente, uma das melhores e mais importantes decisões que fiz na vida. Para aqueles que acham que alguém tornar-se Vegan é uma fase passageira, digo-lhes que isso é o mesmo que considerar que não ser racista, homófico e machista são fases passageiras. Quando nos informamos e compreedemos as consequências por detrás das nossas escolhas, é da nossa responsabilidade actuar sobre esse mesmo “despertar” e nós ou fazemos de acordo com o que a nossa consciência exige ou a ignoramos, e assim mentimos a nós mesmos para não enfrentarmos a possibilidade de estar errados.
E foi assim que me tornei Vegan: por uma questão de sorte, fui investigar sobre algo que é tão rotineiro e pacato como a nossa alimentação. E após o choque incial, quando mais me informava mais percebia que desde sempre vivi numa enorme contradição que eu achava ser normal, que eu mesmo fui ensinado a crer que é normal. Amar um gato ou um cão é normal e aceitável, e, do mesmo modo, escravizar e matar um porco, uma vaca ou uma galinha também o é, apesar de serem animais com a mesma capacidade de sentir dor e prazer, como os nossos animais ditos de estimação.
Foi nesta contradição que o paradigma mudou e a minha mente fez um clique, como que um alarme que apita para o perigo de poder chegar a uma conclusão que não é a esperada e que não ia de encontro ao tudo o que eu acreditava e dava como garantido.
Será, então, realmente justificável o que nós fazemos aos animais, só porque assim podemos? O que é isso diferente das razões por detrás da escravatura ou da xenofobia? Na verdade, toda a gente percebe que o veganismo, ou a ideia de viver sem consumir qualquer produto de origem animal, é a escolha mais lógica e moral. Digamo-lo assim: imagine que tem que fazer algo para sobreviver e tem duas opções para o fazer. Fazendo a primeira opção, você sobrevive mas outros terão que ser aprisionados, violados, torturados e mortos, Fazendo a segunda opção, você sobrevive alegremente e mais ninguém precisa de ser magoado no processo.

Não é natural escolhermos a primeira opção em detrimento da primeira?

Aí está, o veganismo simplificado.
As várias razões pelo qual as pessoas continuam tão ignorantes ou indiferentes em relação a este aspecto são devido à perpetuação de mitos sobre uma alimentação vegana ser considerada nutricionalmente insuficiente, pouca variada e não natural. Após me informar em relação a todos estas “desculpas para mudar” percebi que se tratavam de mitos perpetuados por todos, pela familia, pelos amigos, pelas instituições, até pelos profissionais de saúde (que mais se rejem pelo hábito do que com base na mais recente informação científica disponível) e que apenas beneficiam quem lucra com este negócio macabro: aqueles que possuem os matadouros isolados do resto do mundo, para que o consumidor não se lembre dos gritos e do sangue que correu para que agora possa comer esse “bife”.  Eu simplesmente evitei durante muito tempo pensar sobre estas questões porque não ia conseguir lidar com o peso na consciência de que a carne que comia era a parte do corpo de alguém que não quis morrer, que o leite que bebia pertencia a um vitelo que foi separado à nascença da sua mãe, que fora violada inúmeras vezes para que continuasse a produzir esse mesmo leite, que os ovos que comia vinham de galinhas que não vivem nos prados verdes que aparecem na publicidade da TV mas sim confinadas em jaulas minúsculas e que nunca irão ver a luz do sol nem pisar a terra uma única só vez, todos eles presos, torturados e mortos por um crime que não cometeram.
E quem era eu para dizer que o meu prazer momentâneo por algum destes produtos era mais justificável que a vida e a liberdade de algum destes animais?  Para mim era só uma refeição, para eles era tudo.
Foi preciso ter coragem para admitir que sempre estive errado numa coisa tão simples como o que comia e vestia e, a partir daí, mudar o comportamento. Não é fácil mudar mas é simples, e quando eu sabia que estava a fazer a coisa certa, então, não havia nada de mais capacitante e maravilhoso.
Como qualquer pessoa que passa por este processo de mudança de perspectiva, ao tornar-me Vegan passei a ver o mundo de maneira diferente: vi que o Holocausto não acabou na Segunda Guerra Mundial, que ele já acontecia antes disso e continua nos dias de hoje, em todo o meu redor, e eu estava a contribuir para que ele se perpetuasse. O pior talvez seja ver a minha família, os meus amigos e o resto da sociedade a contribuir para um tipo de sofrimento que eles não desejariam ao seu pior inimigo se estivessem realmente informados. Apesar de tentar chamar a atenção às pessoas que me rodeiam, é muito dificil ultrapassar as defesas que foram criadas durante anos para justificar um comportamento tão rotineiro e tentar mostrar-lhes que eles não estão, de todo, a fazer o que querem fazer mas sim o que foram ensinados a fazer sem se questionarem, sendo, na verdade, escravos mentais.

A escravatura mental é o pior tipo de escravatura, pois dá-nos a ilusão de liberdade e faz-nos confiar, amar e defender o nosso opressor, enquanto cria como inimigo aqueles que te tentam libertar e abrir os olhos.

Tenho a dizer que tornar-me vegan mudou a minha vida para muito melhor, pois para além de me sentir muito mais saudável, consegui alinhar os meus valores morais com as minhas acções e sentir que estou a marcar uma diferença, por mais pequena que seja, para um mundo mais pacífico, sustentável e justo.
Ao contrário do que esperaria, ser Vegan é incrivelmente fácil na sociedade actual e bem mais barato. As opções alimentares são enormes e cada vez mais aparecem novos produtos que vêm substituir produtos de origem animal, veja-se o exemplo da entrada nos supermercados dos leites de soja, côco, aveia, etc., que há uns anos atrás nem existiam para substituir o leite de vaca. Refiro, também, que já existe substituto de origem vegetal para tudo o que é de origem animal, alguns ainda não são comercializados em Portugal mas serão no futuro com o aumento da procura. (e quando digo tudo, digo mesmo TUDO: bifes, bacon, queijo, ovos, maionese, salsichas, etc.)
Se puder deixar algumas dicas para quem se quiser informar mais sobre este assunto, deixo o nome de dois documentários onlineque foram cruciais para chegar ao Veganismo: Cowspiracy;  Terráqueos (Earthlings).

Joana Cavadas – Ao contrário de muitos vegans, o meu processo não foi gradual nem realmente pensado sobre como e em que medida me poderia afectar. Foi uma decisão tomada do dia para a noite, foi um toque na minha consciência como resultado de tentar compreender uma decisão de outro, foi um “eu não quero fazer parte disto”. E esta precipitação tornou-se na mais importate decisão que alguma vez tomei e ocorreu em Janeiro de 2015. Este “clique”, que considero ser ainda um caminho muito longo a percorrer , é um constante debate entre a ética e o conformismo, a moral e o facilitismo.
O veganismo para mim baseia-se no respeito. Quer pelos outros humanos,  se considerarmos os impactos ambientais que a indústria animal tem no planeta e na sua sustentabilidade, quer pelos animais não humanos que sofrem e são tratados como coisas para fins meramente egocêntricos de uma espécie que se acha superior.
Ser vegan não é tão difícil como se suspeita, aliás, é mais difícil fazer com que alguém altere, ainda que ligeiramente, as suas práticas a nível alimentar, por exemplo. Explicar que há um cadáver no prato, que um animal sofreu horrores para estar naquela refeição, que não há diferença entre um cão e um porco, é muito complicado e a não-aceitação é o caminho mais fácil. Há uma barreira, um distanciamento psicológico que, pelo menos a mim, me foi incutido desde criança. Um bife não é uma parte dum animal, um bife é o mesmo que uma hortaliça. Quando esta relação se desfez, foi quando  decidi retirar todos os produros (quer alimentares ou não) da minha rotina na medida do possível.
Depois de mudar de hábitos, e incluir coisas tão simples e ao mesmo tempo tão complexas como ler um rótulo e tentar identificar os produtos de origem animal, compreendi que o difícil é mudar a nossa mentalidade, é admitir que estivemos errados, no meu caso, durante 25 anos. Ser vegan é fácil, é simples, é barato, é diversificado, é saudável, e acima de tudo é bom e gratificante. No fim, sinto-me mais enérgica, mais feliz e principalmente mais inteirada do mundo e do quão a minha existência o afecta.

Maria João Campos, nutricionista na Clínica Sra. da Conceição, em Alcobaça – O veganismo é antes de mais, um movimento político, social e filosófico que adota um regime alimentar muito específico. O termo inglês vegan (vegetarian) apareceu pela primeira vez em 1944 após uma reunião de um grupo de dissidentes da The Vegetarian Society. Em termos alimentares, os Vegan excluem da sua alimentação a carne, o peixe e os produtos de produção animal, como os ovos, lacticínios, mel e gelatina de origem animal; não utilizam nenhum material de origem animal, como couro seda, lã, pele; são a favor dos direitos dos animais, sendo contra a caça e espetáculos de entretenimento que abusem dos animais (circo, touradas) e não utilizam nenhum tipo de produtos testados em animais, como são exemplo alguns cosméticos.
O Veganismo acaba por ser um estilo de vida e não simplesmente um regime alimentar, nesse sentido temos a noção que, não lhe querendo chamar moda, é uma situação que tem vindo a ganhar cada vez mais adeptos.
Se devidamente acompanhados os Vegan poderão fazer uma alimentação que cumpre com as suas necessidades nutricionais específicas, com alguns benefícios extra para a saúde. Posso dizer-lhe que a American Dietetic Association defende que as dietas vegetarianas bem planeadas, incluindo as dietas vegetarianas totais ou vegans, são saudáveis, nutricionalmente adequadas e podem trazer benefícios para a saúde na prevenção e tratamento de determinadas doenças. Para além disso, são apropriadas para indivíduos em qualquer fase da sua vida, incluindo períodos de gravidez, aleitamento, infância, adolescência e também para atletas.
Procuram-me muitas pessoas com o objetivo de terem uma alimentação mais saudável, associando a isso, uma alimentação vegetariana ou vegan. O importante é darmos todas as informações adequadas a quem nos procura, para lhes permitir uma escolha informada sobre o regime alimentar mais adequado.
Na minha opinião, enquanto técnica de saúde, aconselho as pessoas a procurarem um nutricionista antes de tomar a decisão de alterar o seu regime alimentar. Só desta forma poderão adotar uma alimentação adequada de modo a que não existam preocupações mas apenas orientações.

 

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