O Rabisco na Benedita

João Maurício
Professor de História aposentado

«Recordo: um dia, numa desavença com o meu irmão ele tirou-me e partiu a minha ardósia, chorei, porque as dificuldades eram muitas naquela época e eu não tinha onde fazer os trabalhos de casa. Além de ser boa aluna tinha também alguma imaginação e assim pensei resolver o problema com uma pequena desculpa. Disse à minha mãe que tinha aulas mais cedo, peguei numa cestinha e fui a um olival onde já tinham apanhado a azeitona para ver se encontrava alguma esquecida, chamava-se ir “ao rabisco” e consegui encher a cesta. No caminho para a minha escola havia um lagar de moagem de azeitona, fui vender a azeitona e o dinheiro chegou para comprar uma ardósia na mercearia que havia pertinho da escola.» Este é um extrato de um belo texto biográfico escrito por Natália Canário. Uma prosa bem elaborada, cuja temática tem a ver com a Benedita de outros tempos, mais concretamente na sua região poente.
O rabisco era um costume antigo aceite por o mundo rural. Andar ao rabisco era neste caso percorrer os olivais e apanhar a pouca azeitona que ficar esquecida após a apanha. Como curiosidade diremos que em 1935, a freguesia da Benedita tinha 11 lagares de azeite.
José Luís Machado, na edição de 11 de Agosto de 1955 deste jornal, diz-nos que a freguesia produzia “centenas de carradas de azeitona”.
Lembro-me do Joaquim Mariano, da Ribafria, desaparecido há quarenta e muitos anos. Foi capataz dos ranchos que iam apanhar a azeitona na Quinta da Serra.
No inventário de 1932 – feito segundo a legislação que regulava o funcionamento da Comissão Jurisdicional dos Bens Culturais do Ministério da Justiça e do Culto – aparece uma referência ao “Olival da Senhora”, propriedade da Paróquia da Benedita. Terminamos com um dado curioso. Documentação por nós consultada diz-nos que em 1918 “todos os produtores de azeite da freguesia da Benedita deveriam informar obrigatoriamente o regedor” sobre as quantidades de azeite que tinham produzido e o local onde o mesmo se encontrava armazenado.

João Maurício
Professor de História aposentado

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