Não sou monárquica, mas tenho como muitos uma enorme admiração pela rainha Isabel II.
Desde logo, pelo uso que faz da palavra. A rainha só fala à nação pelo Natal e discursa no Dia da Commonwealth. O discurso que profere na abertura anual do Parlamento é escrito pelo Governo. Em 70 anos, fez apenas seis curtos discursos na televisão em ocasiões especiais, como na pandemia, em que falou 4 minutos e meio, mas foi notícia em todo o mundo. Menos é mais. Ninguém sabe as opiniões políticas da rainha, no seu estrito respeito pela Constituição não-escrita do Reino Unido.
Isabel II foi formada numa democracia robusta e ainda mais a robusteceu. Já a nossa democracia é muito recente. Os nossos responsáveis ou falam demais ou falam por falar. No Parlamento português, não se discutiria nenhuma moção de confiança ao 1.º ministro a propósito de uma festa. Como vimos, os políticos e a comunicação social ignoraram durante anos o devido escrutínio da governação de José Sócrates.
Contou-me um professor que, quando estudava na Inglaterra, a rainha visitou a universidade. O protocolo foi explicado: ninguém fala à monarca sem ela falar primeiro. Um seu colega, também estrangeiro, resolveu testar a rainha e atirou: “Good morning Your Majesty!”. Isabel II respondeu amável: “Good morning!”. Parece pouco, mas manter o seu bonito modo (como dizia a minha mãe) face a irreverências diz muito sobre a rainha. Admiro-lhe a infalível amabilidade, a par da adaptação a novas formas e expressões (veja-se o jubileu!), sem perder a essência ou identidade.
Ao longo de 96 anos, como condutora voluntária durante a guerra ou entre as maiores honrarias, foi um baluarte: de serviço, de constância e de boas maneiras num mundo crescentemente egoísta, inconstante e agressivo. Honrando a sua célebre declaração aos 21 anos: “Há um lema assumido por muitos dos meus antepassados – um lema nobre: ‘Eu sirvo’ (…) Declaro perante todos vós que toda a minha vida, seja longa ou curta, será dedicada ao vosso serviço”.