O Sr. Professor

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

Ontem, o Dicastério para as Causas dos Santos promulgou vários decretos, um deles a declarar as virtudes heróicas do Prof. Ernesto Cofiño, médico, Prof. na faculdade de Medicina de San Carlos (Guatemala).

O decreto das virtudes heróicas é um dos passos mais complexos antes da beatificação de alguém. É precedido por um rigoroso inquérito na diocese de origem —recolheram-se os testemunhos de 45 pessoas— e pelo estudo detalhado da biografia —um volume de 771 páginas. Os trabalhos são supervisionados na diocese e depois verificados em Roma. A partir daí, uma comissão de teólogos do Vaticano debruça-se sobre o assunto e dá o seu parecer. Depois, pronuncia-se uma comissão de Cardeais e finalmente o Papa decide. Neste caso, confirmou a conclusão, reconhecendo que o Prof. Ernesto Cofiño viveu todas as virtudes em grau heróico. Este decreto é uma de declaração de santidade que, mais tarde, se houver um milagre, dá lugar à beatificação, que é uma declaração de santidade ainda mais solene.

O interesse particular deste decreto do Prof. Cofiño é tratar-se de uma vida plenamente normal. Estudou, fez o doutoramento na Sorbonne, em Paris, casou-se, teve cinco filhos, seguiu a carreira académica, com investigações e abundante trabalho clínico, promoveu muitas iniciativas cívicas, cultivou muitas amizades…

Alguns pensam que uma pessoa tão realizada, com uma agenda tão preenchida, não tem tempo para uma vida espiritual intensa, a ponto de que a sua relação com Deus se possa classificar como heróica. A conclusão da Igreja é que aconteceu justamente ao contrário: foi por trabalhar tão bem que ele chegou a ser santo.

As biografias do Prof. Cofiño estão cheias de episódios desta luta heróica. Sempre foi um homem de notáveis qualidades, mas, quando conheceu o Opus Dei e percebeu que Deus lhe dava essa vocação, procurou corresponder de tal maneira que todos o notaram à sua volta. A mulher dizia, feliz e divertida: «não sei o que fizeram ao meu marido, mas é uma maravilha!».

Deus serviu-se do seu prestígio e simpatia para promover numerosas conversões e desejos de entrega a Deus.

Um dia, o filho mais novo apresentou-lhe a namorada, sem lhe dizer de que ela não era católica. Como não falaram de religião, o filho pensou que o pai não se tinha apercebido, mas o pai era tão simpático e respeitava tanto os outros que bastou um momento em que a rapariga e ele conversaram para a sós para que ela lhe abrisse a alma e partilhasse as suas dúvidas. Rapidamente a rapariga quis receber mais formação, começou a acompanhá-los à Missa e depois quis baptizar-se e receber os sacramentos.

O Prof. Cofiño já era viúvo quando este último filho se casou. Queria que o casal vivesse por sua conta, mas o jovem casal teimou tanto que queriam viver com ele que acabou por aceitar. Podia ter sido um pesadelo, mas foi um sonho, porque o Prof. não interferia em nada e estava sempre disponível para ajudar.

Mesmo com muita idade, continuou a empenhar-se em várias iniciativas, também pedindo dinheiro para as sustentar. Fazia milhares de visitas por ano, a pedir ajuda. Um dia, em que foi com um amigo fazer uma destas visitas, a recepcionista expulsou-os com maus modos. O Prof. Cofiño não se aborreceu, escreveu dois nomes num papel e entregou-lho: «Deixo-lhe aqui os nomes de dois médicos, para que vá quanto antes consultá-los». Passado um ano, resolveu repetir a tentativa: o amigo lembrou-lhe a experiência desagradável, mas o Prof. Cofiño pensava que a visita daria gosto a Deus. Encontraram uma nova secretária, que foi chamar a pessoa responsável, que veio a correr emocionada. Era a recepcionista anterior!: «Professor! Que alegria vê-lo! Estou-lhe muito grata, porque fui consultar um dos médicos, e ele descobriu uma doença grave que eu desconhecia. O meu casamento passava por um momento difícil e resolveu-se. E estava a ponto de ser despedida e fizeram-me gerente».

Os episódios são tantos, muitos deles divertidos. Porque o Prof. Cofiño manteve uma actividade intensa até morrer com 92 anos. O admirável é que foi neste rebuliço que se fez santo. A Eucaristia diária era o centro do seu dia, rezava o terço, dedicava meia hora de manhã e meia hora de tarde a fazer oração, procurava oferecer a Deus todas as tarefas do seu dia, confessava-se todas as semanas, procurava formar-se para ser melhor cristão… Sempre com uma agenda sobrecarregada, dedicava todos os instantes a Deus. Heroicamente.

José Maria André
Professor do I. S. Técnico

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